quarta-feira, 17 de agosto de 2011


– É isso que me irrita profundamente em você. Vem cá, você não tem certeza de nada? Você é um grande talvez. Tudo é talvez. Você sabe teu nome, pelo menos?
– E você é tão cheia de certezas, meu amor.
– E isso por um acaso é ruim?
– Pessoas que costumam ter muita certeza de tudo, na verdade, não sabem de nada. Eu prefiro assim, saber nada sobre nada. Porque, dessa vida, eu só sei que não sei de absolutamente nada.
– Eu odeio essa classe maldita de poetas. Vocês sempre tem argumentos vagos pra tudo.
– Gosto de argumentos vagos… eles passam a ter mais de um significado. O meu e os dez que você passa a inventar na tua cabeça.
– Tá vendo… que saco!
– Mas, voltemos… não tenho certeza de nada mesmo, cada hora nasce um troço diferente aqui dentro. Prefiro não te dar meias certezas. Mas posso te dizer que algo existe, tudo bem?
– Tá vendo, de novo, você falou, falou e não disse nada.
– Olha, meu amor… Eu quis dizer que tenho estado em constante mudança, dificilmente sinto a mesma coisa sobre algo dois dias seguidos.
– Ah… então quer dizer que daqui três dias eu não existo mais? Hum, agora você me esclareceu tudo.
– Tá vendo como tuas certezas vivem te dando rasteiras? Apenas disse que não sinto as mesmas coisas durante dois dias seguidos… e prefiro assim. Digamos que essas coisas dão uma passeada e depois voltam famintas, rasgando tudo aqui dentro. Sabe, meu bem… a gente inventa dor e amor em tudo que nos satisfaz…
– Como eu odeio essa classe de poetas! A gente começa a se derreter sem ao menos ter entendido uma palavra.
– É melhor assim, esse tom de mistério mantém tudo mais vivo. Mas, quero apenas esclarecer uma coisa nessa tua cabecinha: se você quer saber se existe, sim, existe. E se você tiver afim de encarar essa parada do junto comigo…
– Continua… que parada?
– Era isso, só. Achei que você ia entender. Essa parada toda, esse sentimento todo, juntos, entendeu?
– Não tô te entendendo… do quê você tá falando?
– Você ao menos entendeu que eu estava falando de você, da gente, meu amor?
– Não sei o que dizer. Por um segundo me vi tendo certeza de várias coisas que eu dizia ter sem ao menos ter uma ideia. Mas… tô gostando dessa de não saber nada sobre nada, não parece mais tolice. De alguma forma, parece sentir mais.
– Acho que agora você tá começando a entender as coisas… Para com esse negócio de certezinhas. Deixa tudo fluir, minha pequena. Você vai ver… não ter explicação pra nada é uma delícia. Porque, na verdade, quem somos nós pra sabermos algo sobre essa maluquice que é a vida? Deixa tudo pra lá e sente, só sente.
– Você parece saber tanto…
– Eu? Sei de nada, nem me diga uma coisas dessas… Mas, vai querer sentir essa parada toda junto comigo, pequenina?
– Sabe essa maluquice toda de vida? Quero enfrentar do teu lado, meu poeta. Porque… eu queria dizer que te amo, mas, como vou ter certeza de que amo, se ao menos sei o que é amor… Mas posso te dizer uma coisa: se quer saber se existe, sim, existe, e é tão lindo.
– Não precisa dizer… esse negócio de te amo é tão escroto. Prefiro deixar tudo subentendido, prefiro deixar, aos poucos, em pequenas coisas, você saber que aqui habita uma coisa linda… deve ser mais bonito até que esse amor todo que esse pessoal sente.
– Então, poeta… que sintamos e que não saibamos de nada sobre a vida…
– Então, meu anjo, que vivamos, apenas e que morramos de amor, porque não sabemos nada sobre… isso é alucinógeno, não é, minha flor?
— João Amaral

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